Com metodologia baseada nos ensinamentos de Bert Hellinger, iniciativa coordenada pela juíza de Direito Lizandra Cericato, Projeto Justiça Sistêmica promove reconexão familiar e redução de conflitos interpessoais, sociais e institucionais na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), Região Metropolitana de Porto Alegre. “A humanização foi, é, e sempre será o melhor caminho para a redução da violência”, afirma magistrada. Iniciativa chega à 16ª edição, e beneficia cerca de 400 participantes. Convidada especial da solenidade de formatura, atriz, consteladora e diretora de Comunicação do CECS, Ingra Lyberato diz que “esse é um modelo já experimentado e validado, que pode e deve ser reproduzido em outras regiões do Brasil”
Coordenado pela juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), Lizandra Cericato, o Projeto Justiça Sistêmica promove reconexão familiar e redução de conflitos interpessoais, sociais e institucionais na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), Região Metropolitana de Porto Alegre. Pessoas condenadas à pena privativa de liberdade têm oportunidade de transformar suas vidas. A iniciativa chega à 16ª edição, e beneficia cerca de 400 participantes.
A solenidade de formatura, realizada no dia 06 de dezembro, nas dependências da PEJ, foi organizada por iniciativa da direção da casa prisional, entusiasta da continuidade do projeto. A motivação vem pelos depoimentos e pedidos dos participantes da edição anterior. Durante a solenidade, foi feita a entrega de certificados a reeducandos dos regimes Semiaberto, Galeria dos Trabalhadores e representantes das 12 Galerias.
“A iniciativa não apenas reabilita, mas também humaniza um sistema marcado por superlotação e desigualdades”, pontuou a juíza. Como convidada especial, a solenidade contou com a presença da atriz, escritora, consteladora e diretora de Comunicação do Centro de Excelência em Constelações Sistêmicas (CECS), Ingra Lyberato.
De acordo com as informações da magistrada, em 2021 o projeto teve início com o apoio do psicólogo Bauer Orcina Rodrigues, na Organização não governamental (ONG) Associação de Proteção e Assistência aos Condenados de Porto Alegre (RS), a Apac Porto Alegre. Depois vieram os presídios femininos Madre Pelletier, Guaíba, Galeria Trans Charqueadas, Erechim e Apac Pelotas.
“A humanização, que prima pela resolução de conflitos interpessoais, sociais e institucionais foi, é, e sempre será o melhor caminho para a redução da violência”, afirma Lizandra Cericato.
A lista de interessados da PEJ para 2025 já foi entregue pelos líderes e conta 57 nomes para as próximas oficinas, o que reforça o interesse e a confiança na abordagem sistêmica como ferramenta de transformação e reabilitação.
Vários familiares se manifestaram em agradecimento pelas mudanças significativas de maridos e filhos, e solicitaram a continuidade do projeto, informa Lizandra Cericato. Segundo ela, “a metodologia das Oficinas Sistêmicas fundamentada na filosofia que embasa a Constelação de Bert Hellinger faz isso acontecer e facções darem-se as mãos”.
O artigo científico “Pedagogia Sistêmica no Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier: transformação e reabilitação” recebeu o Prêmio no Encontro de Administração da Justiça no dia 29 de novembro em Natal (RN), na categoria pesquisa científica empírica. “Gratidão a todos que acreditaram que o olhar sistêmico é capaz de transformar e reabilitar”, pontua a juíza.
Oficinas Sistêmicas: teoria e prática em busca da transformação
A Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), a maior do Sul do país em número de detentos, abrigava, até a última edição do Projeto Justiça Sistêmica, 2.400 presos – 800 acima de sua capacidade. Com uma abordagem inovadora e resultados transformadores, a iniciativa impacta facções e famílias ao propor a convivência entre grupos historicamente rivais, como “Mano”, “Bala na Cara” e “Restinga”, informa a juíza de Direito Lizandra Cericato
Para viabilizar as oficinas, a coordenação do projeto adotou uma metodologia que respeita as dinâmicas internas do presídio. A seleção dos participantes é realizada pelos próprios líderes das galerias. Isso garante que dois representantes de cada setor participem das atividades. Com espaço limitado a 24 pessoas por turma, as oficinas integram conceitos teóricos e vivências práticas fundamentadas na filosofia sistêmica do mestre Bert Hellinger.
As oficinas seguem um programa de 12 módulos. Inicia pela biografia de Hellinger e avança pelas leis universais, as Ordens do Amor e da Ajuda, a análise transacional de Eric Berne (psiquiatra naturalizado estado-unidense) e o triângulo dramático de Stephen Karpman (psicoterapeuta e escritor norte-americano).
Além disso, exercícios práticos, como esculturas baseadas na metodologia de Virginia Satir (autora e psicoterapeuta norte-americana), ancoram os conceitos teóricos em experiências concretas. “A fenomenologia acontece no real, no cotidiano. O despertar para a mudança começa ali, na vida diária desses homens”, explica Lizandra.
O trabalho também inclui a distribuição de livros de Hellinger, como As Ordens do Amor e A Paz Começa na Alma. Esses materiais circulam entre os reeducandos e ampliam o alcance do aprendizado. “Unimos o conceito teórico à prática sistêmica, sem realizar constelações clássicas para manter a neutralidade no campo. Desenvolvemos dinâmicas que respeitam a realidade e as limitações do ambiente prisional”, ressalta a juíza.
Desafios logísticos e emocionais
A movimentação interna dos detentos representa um dos maiores desafios para a execução do projeto. “Imagina movimentar uma ‘cidade’ dentro da penitenciária”, comenta Lizandra, referindo-se à complexidade de deslocar reeducandos entre galerias. O déficit de agentes policiais penais agrava a situação, o que gera atrasos e ausências. Ainda assim, a juíza encontra significado até nas dificuldades: “Ninguém está atrasado. Quem está aqui é porque tem que estar. Isso traz alívio, conforto e força aos participantes.”
Outro ponto destacado é o impacto emocional do projeto. Muitos dos reeducandos não veem suas famílias há décadas, marcados por baixa autoestima e rejeição social. Nas oficinas, eles são encorajados a resgatar a paternidade e a reconstruir vínculos. “É um momento em que algo renasce dentro deles. Mostrar que eles ainda têm valor e podem exercer a paternidade ainda entre grades é transformador”, pontua a juíza.
Transformação pessoal e familiar marca relatos de reeducandos no Projeto Justiça Sistêmica
Durante a solenidade de formatura na PEJ os reeducandos compartilharam depoimentos emocionantes sobre como as Oficinas Sistêmicas impactaram suas vidas e a relação com as famílias.
Os relatos destacaram o papel transformador da metodologia fundamentada nos ensinamentos de Bert Hellinger, que promove a humanização e o resgate da autoestima.
Um dos participantes afirmou que o projeto trouxe uma nova forma de olhar para a vida. “A doutora Lizandra e sua equipe nos deram uma visão diferente, nos ensinaram a entender as coisas que antes não compreendíamos. Isso mudou o modo como vejo minha própria história e como me relaciono com minha família. Sei que, ao sair daqui, serei uma pessoa diferente”, disse.
Outro interno destacou a importância de aprender a reconhecer seus pensamentos e emoções. “Percebi o quanto é importante entender o que pensamos, especialmente os pensamentos ruins, para transformá-los. Quanto mais cedo aprendermos isso, mais rápido poderemos mudar nossas vidas e construir algo melhor”, relatou.
A força da resiliência e do aprendizado
Os depoimentos também refletiram o impacto das oficinas no fortalecimento emocional e na capacidade de enfrentar desafios. “O bom vencedor não é aquele que fica na memória, mas aquele que continua lutando. É isso o que aprendemos aqui, a persistir, a seguir em frente com esperança e determinação”, declarou um participante.
A fé e a gratidão também apareceram como elementos recorrentes nos relatos. “Quero agradecer a Deus e à doutora por nos mostrar que ainda podemos fazer algo de bom com nossas vidas. Foi difícil chegar até aqui, mas agora entendo que há propósito em tudo isso. Esses conhecimentos não são apenas para nós, mas para todos que nos cercam”, disse outro reeducando.
Impactos que transcendem os muros da prisão
A transformação promovida pelas Oficinas Sistêmicas não se limita ao ambiente prisional. Muitos dos participantes relataram mudanças significativas nas relações familiares. “Aqui, aprendemos que podemos exercer a paternidade mesmo estando presos. Isso resgatou algo dentro de mim, algo que eu pensava estar perdido”, revelou um interno.
Outro participante reforçou a necessidade de levar o aprendizado para além das grades. “Esses ensinamentos não só nos libertam internamente, mas também têm o poder de transformar nossas famílias. Precisamos continuar esse trabalho, porque ele é um ponto de partida para algo muito maior”, afirmou.
Perspectiva de futuro e continuidade
Os relatos evidenciam que o Projeto Justiça Sistêmica não apenas contribui para a reabilitação dos internos, mas também os inspira a construir novas trajetórias. Apesar das dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas no cotidiano prisional, os reeducandos demonstraram um profundo senso de gratidão e esperança.
“Esse trabalho nos mostrou que somos capazes de muito mais. Ele nos deu ferramentas para enxergar além do que vivemos hoje, para resgatar nosso valor e nossa humanidade. Acredito que, com iniciativas como essa, podemos construir um futuro diferente”, concluiu um dos participantes.
A diplomação dos reeducandos não apenas marcou o encerramento de mais uma etapa do projeto, mas também reafirmou a importância de iniciativas que integram conhecimento sistêmico e práticas humanizadoras como caminhos para a transformação social e a redução da violência.
Ingra Lyberato destaca impacto transformador do Projeto Justiça Sistêmica
A atriz, escritora e consteladora Ingra Lyberato, convidada especial na cerimônia de formatura do Projeto Justiça Sistêmica, expressou profunda admiração pelo trabalho desenvolvido na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ). Em seu relato, Ingra descreveu a experiência como emocionante e transformadora. Ela ressaltou a potência do projeto como modelo a ser replicado em outros estados.
“Vi coisas lindas. Estou profundamente impactada com tudo que presenciei na PEJ. Este é um modelo já experimentado e validado, que pode e deve ser reproduzido em outras regiões do Brasil. Testemunhei pessoas emocionadas, muitas delas em lágrimas, agradecendo à juíza Lizandra Cericato por terem suas vidas transformadas e por reconectarem com suas famílias. Foi comovente ver como a metodologia sistêmica trouxe sentido e esperança para esses homens”, declarou.
Transformação que ultrapassa as grades
Durante a cerimônia, Ingra destacou o papel central da juíza Lizandra e da equipe do projeto na transformação pessoal e familiar dos reeducandos: “Os depoimentos que ouvi foram marcantes. Eles diziam que suas vidas mudaram, que a relação com a família se transformou. Era evidente que o impacto desse trabalho vai muito além do sistema prisional. Atingiu famílias e comunidades inteiras.”
A diretora de Comunicação do CECS reforçou a necessidade de ampliar iniciativas como essa em um país com altos índices de reincidência criminal e superlotação carcerária. “Esse é um trabalho que não só humaniza, mas também aponta caminhos reais para a reabilitação e reintegração social. Ele mostra que mudanças são possíveis, mesmo em cenários tão desafiadores”, pontuou.
Reconhecimento e inspiração
Para Ingra, o Projeto Justiça Sistêmica é um exemplo de como ações fundamentadas na humanização e no olhar sistêmico podem transformar realidades. “A cerimônia foi muito emocionante. A dedicação da equipe, a gratidão dos internos e a perspectiva de um futuro diferente para essas pessoas são inspiradoras. Esse trabalho incrível é um farol de esperança em tempos tão difíceis”, afirmou.
O testemunho de Ingra Lyberato reforça o impacto do projeto, que já formou centenas de reeducandos e segue a inspirar novas iniciativas no sistema prisional. A atriz e consteladora concluiu com palavras de gratidão à juíza Lizandra Cericato: “Obrigada pelo convite e parabéns por esse trabalho que merece ser amplamente reconhecido e replicado.”

A juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), Lizandra Cericato e a atriz, escritora, consteladora e diretora de Comunicação do Centro de Excelência em Constelações Sistêmicas, Ingra Lyberato, recebem homenagens durante formatura de reeducandos do Projeto Justiça Sistêmica na Penitenciária Estadual do Jacuí, em Charqueadas, Região Metropolitana de Porto Alegre