Grupo de Trabalho (GT) Científico do Centro de Excelência apresenta estudo publicado este ano no Journal of Psychiatric Research, intitulado ‘A eficácia da terapia de Constelação Familiar/Sistêmica ajustada à pandemia na melhora dos sintomas psicopatológicos: um ensaio clínico randomizado’, de Barna Konkolÿ Thege e Gergely Sándor Szabó. Análise coube à integrante da equipe, Erica Lopes Ferreira, formada em Odontologia, mestre em Educação – Pedagogia Universitária, consteladora familiar e sistêmica. Diretora Roseny Flávia Martins destaca importância da iniciativa. Veja o conteúdo

O Centro de Excelência em Constelações Sistêmicas (CECS) realizou uma apresentação do Grupo de Trabalho (GT) Científico com o objetivo de discutir um artigo atual, publicado em 2024, cuja referência bibliográfica completa é Konkolÿ Thege, Barna, Szabó, Gergely Sándor. The efficacy of pandemic-adjusted family/systemic constellation therapy in improving psychopathological symptoms: A randomized controlled trial. J Psychiatr Res, v. 177, p. 271-8, Sep. 2024.

A análise foi feita pela integrante da equipe, Erica Lopes Ferreira, formada em Odontologia, mestre em Educação – Pedagogia Universitária, consteladora familiar e sistêmica. O evento via Zoom, na terça-feira (19/11), foi exclusivo para associados e ofereceu uma oportunidade de explorar e discutir os aspectos mais recentes e relevantes sobre o tema.

A abertura ficou a cargo da diretora Científica do CECS, Roseny Flávia Martins, que destacou a importância da atuação colaborativa do GT Científico da instituição. “Ao longo dos últimos seis meses, a equipe, formada por profissionais de diversas áreas, se reúne regularmente com o propósito de contribuir para o avanço científico nesse campo. Este encontro marca um passo importante na consolidação de nossas iniciativas acadêmicas”, declarou.

O artigo científico em análise foi publicado no Journal of Psychiatric Research com o seguinte título traduzido: ‘A eficácia da terapia de Constelação Familiar/Sistêmica ajustada à pandemia na melhora dos sintomas psicopatológicos: um ensaio clínico randomizado’.

O estudo é assinado por Barna Konkolÿ Thege, pesquisador do Waypoint Research Institute e professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Toronto, no Canadá, e Gergely Sándor Szabó, vinculado ao Departamento de Psicologia Clínica da Universidade Károli Gáspár, da Igreja Reformada da Hungria, em Budapeste.

O estudo, ocorrido em Budapeste, na Hungria, investigou os efeitos da terapia de Constelações Familiares e Sistêmicas durante as restrições impostas pela pandemia de Covid-19.

A intervenção consistiu em workshops de um dia único, realizados em julho de 2021, respeitando protocolos sanitários, como uso obrigatório de máscaras e distanciamento físico. Cada evento foi conduzido por um psicólogo clínico ou um médico experiente, ambos com mais de 10 anos de prática em Constelações.

O objetivo dos pesquisadores foi avaliar a eficácia dessa terapia na saúde mental de indivíduos que se submeteram a sessões em um formato adequado para o contexto pandêmico.

A pesquisa foi desenhada como um estudo randomizado controlado, com amostra dimensionada e utilização de questionários validados para ter relevância estatística e com o parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade da Hungria.

Os protocolos e o formato rigoroso visavam avaliar a eficácia de intervenção terapêutica e contava com 80 participantes recrutados por meio de anúncios em mídias sociais pagas, divididos em dois grupos iguais.

No quesito psicopatologia geral, foi observada uma melhora em sete dos 16 indicadores de sintomas, como obsessão-compulsão, ansiedade, hostilidade e sensibilidade interpessoal etc.

O grupo de intervenção foi avaliado em três momentos: uma avaliação prévia, quatro semanas e seis meses após a intervenção. Ao final, os dados quantitativos não indicaram benefícios sustentados em grande parte dos participantes.

No lado qualitativo, o estudo também coletou dados sobre as percepções. Após um mês da intervenção, sete em cada 10 participantes (72,2%) afirmaram mudanças positivas significativas em aspectos como qualidade de vida interpessoal, saúde mental e bem-estar geral. Muitos disseram que se sentiram mais calmos e assertivos, com melhor relacionamento com familiares e amigos, maior nível de energia e humor mais otimista.

No entanto, três em cada 10 dos participantes afirmaram efeitos negativos, o que inclui piora do humor, conflitos familiares intensificados e até sintomas físicos, como dor nas costas e aumento dos transtornos alimentares. O que ressalta a importância de acompanhamento terapêutico e o monitoramento desses efeitos em estudos futuros.

Seis meses depois, 63,9% dos participantes experimentaram benefícios contínuos, como melhor capacidade de estabelecer limites nos relacionamentos, maior resiliência emocional e até sucesso em engravidar após um longo período de infertilidade.

Embora o estudo tenha trazido insights valiosos sobre os efeitos das Constelações Familiares e Sistêmicas ajustadas ao contexto pandêmico, ele também levanta questões importantes sobre a influência na variação imposta ao método sobre a necessidade da avaliação também do grupo controle para possibilitar comparações mais robustas sobre a eficácia da intervenção.

A interpretação dos efeitos iatrogênicos poderia ter sido mais completa se houvesse uma coleta de dados do grupo controle nos tempos pós-intervenção, o que traria mais detalhes sobre os efeitos da terapia em aspectos físicos e relacionais.

Apesar das limitações, o estudo contribui para a compreensão dos efeitos das Constelações Familiares e Sistêmicas sob as condições de restrição pandêmicas.

Os autores sugerem a realização de estudos mais controlados, com amostras heterogêneas e grupos controle bem definidos para oferecer respostas mais definitivas sobre a eficácia das Constelações no tratamento de transtornos mentais, bem como no sentido de explorar novos formatos para a prática das Constelações Familiares e Sistêmicas, como as sessões virtuais.

Estudo aponta para o avanço no entendimento das potencialidades das Constelações Familiares e Sistêmicas

Segundo análise de Erica Lopes Ferreira, o artigo apresenta a ‘Constelação Familiar/Sistêmica’ como uma terapia externa ao indivíduo que objetiva a redução de sintomas psicopatológicos, refletindo um paradigma científico tradicional.

“Dentro desse modelo, a terapia de Constelação Familiar é vista dentro da dualidade: ela é boa ou má? Cura ou não cura os sintomas?”, questionou. Erica ressaltou que a abordagem científica dominante tende a tratar a doença como algo que precisa ser eliminado, uma visão que, segundo avalia, é herança de um momento histórico em que a ciência foi separada da espiritualidade.

Por outro lado, Erica destacou que as constelações sistêmicas operam sob uma filosofia de vida mais ampla, considerando o ser humano como parte de um todo integrado. Nesse contexto, a doença não é apenas um problema, mas também uma mensagem ou uma manifestação de algo mais profundo, o sistema familiar.

“Existe um choque de paradigmas aqui. A ciência e as Constelações parecem estar de costas uma para a outra, sem diálogo. No entanto, acredito que trabalhos como este podem abrir caminhos para uma maior aproximação”, afirmou

Erica Lopes Ferreira também detalhou a metodologia empregada no estudo apresentado, explicando como os pesquisadores utilizaram as constelações sistêmicas no formato terapêutico descrito na literatura científica. De acordo com Erica, o artigo propõe um processo estruturado em duas etapas principais: a constelação do problema e a constelação da solução, fundamentadas em referências teóricas publicadas entre 2006 e 2015.

No desenho estabelecido para a primeira etapa, denominada constelação do problema, os procedimentos buscam construir uma imagem interna do sistema para o cliente. Nessa fase, os representantes são posicionados de acordo com distâncias espaciais, angulares e posturas corporais, refletindo simbolicamente a situação problemática.

Segundo Erica, essa imagem ajuda o facilitador a identificar dinâmicas ocultas no sistema do cliente, enquanto ele próprio é levado a refletir sobre sua experiência interna. Essa etapa inclui elementos não verbais — como a observação dos representantes — ou verbais, com perguntas referentes a sensações físicas, sentimentos e pensamentos emergentes durante a constelação.

Na segunda etapa, a constelação de solução, a proposta é criar uma imagem que ofereça resolução do problema ao cliente. De acordo com as bases teóricas referenciadas no estudo, essa etapa envolve ajustes nos arranjos dos representantes, alterações espaciais e interações breves que seguem princípios de funcionamento saudável. O objetivo final é promover uma reorganização sistêmica que represente uma solução integrativa, capaz de auxiliar o cliente a lidar com o problema de maneira mais saudável.

Erica enfatizou que a estrutura apresentada no estudo reflete um esforço de integrar as práticas de constelação familiar a um formato terapêutico mais padronizado, permitindo que sua eficácia seja avaliada com rigor científico. “A metodologia apresentada no artigo é interessante porque tenta equilibrar a essência do método com uma abordagem mensurável”, comentou.

Outro ponto enfatizado por Erica Lopes Ferreira foi a abordagem utilizada no estudo para avaliar o bem-estar dos participantes, uma dimensão essencial para medir os efeitos das Constelações Sistêmicas ajustadas à pandemia. Segundo a apresentação, foram aplicados sete instrumentos padronizados, incluindo questionários validados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela própria aplicação de versões ajustadas ao idioma do país, com alta consistência psicométrica e confiabilidade.

Entre esses instrumentos, destaca-se um questionário que avalia a percepção de bem-estar subjetivo, ou seja, a sensação de plenitude e satisfação com a vida. Ele utiliza uma escala Likert de 0 a 7, na qual os participantes indicam percepção de bem-estar em diferentes aspectos de suas vidas. Erica apontou que este instrumento já havia sido aplicado anteriormente em oito estudos com mais de 3.800 pessoas, demonstrando validade psicométrica.

Os dados coletados foram submetidos a análises rigorosas. Erica explicou que, embora tenha havido melhora significativa nos estágios primários relacionados às psicopatologias gerais — como a identificação de sintomas e maior percepção de bem-estar, a magnitude da diferença entre os grupos de intervenção e controle foi comprometida em termos estatísticos pela redução da amostra inicial. Essa análise mostra que, embora os resultados sejam promissores, o impacto precisa ser interpretado com cautela, em especial o questionário relacionado a transtornos alimentares.

O pesquisador destaca que esse tipo de avaliação quantitativa, mesmo quando as mudanças não são amplamente significativas, traz informações valiosas para a evolução da prática terapêutica e para a compreensão do impacto das constelações sistêmicas em diferentes contextos.

De acordo com Erica Lopes Ferreira, em termos qualitativos, apesar de algumas melhorias apresentadas nos estágios iniciais relacionadas à psicopatologia geral, os resultados apresentaram um impacto estatisticamente baixo. Isso levou os autores a alertarem que os dados precisam ser interpretados com cautela, visto que o desenho metodológico não permite comparações com práticas usuais de Constelação ou conclusões definitivas. O estudo coloca luz sobre a influência das adaptações propostas para as Constelações Sistêmicas em tempos de pandemia.

Como contribuições, o estudo destaca o avanço no entendimento das potencialidades das Constelações Familiares e Sistêmicas, bem como dos possíveis efeitos adversos associados às adaptações realizadas para oficinas em formato ajustado à pandemia. Os autores sugerem que as futuras pesquisas sejam realizadas sob condições mais controladas, com características consideradas o “padrão-ouro” da prática. Isso incluiria seminários mais longos, com duração de dois a três dias, realizados com grupos mais homogêneos e dentro de contextos clínicos específicos.

Outro ponto enfatizado pelos autores foi a necessidade de explorar novos formatos, como a aplicação de constelações em ambientes virtuais ou outras abordagens alternativas. Além disso, futuros estudos devem investigar amostras que incluam pacientes com transtornos específicos, como os alimentares, para avaliar o impacto terapêutico das constelações na compreensão e manejo dessas condições.

Erica concluiu ao destacar a importância de expandir o diálogo entre ciência e Constelações Sistêmicas, especialmente no contexto das pesquisas que buscam validar e adaptar essas práticas em diferentes ambientes e configurações, visto que tanto a Ciência como as Constelações Familiares estão a serviço da vida.

Perfil

Erica Lopes Ferreira, que realizou a análise, é formada em Odontologia pela UFPR e possui rica trajetória acadêmica e profissional, com artigos publicados no Brasil e no exterior, especializações em Metodologia do Ensino Superior e Endodontia (PUCPR).

É mestre em Educação – Pedagogia Universitária (PUCPR), pós-graduada em Administração Pública e Gerência de Cidades (Faculdade de Tecnologia Internacional) e possui um MBA em Licitação, Contratos e Auditoria Pública (Instituto Superior do Litoral do Paraná).

Possui especializações em Estratégia de Saúde da Família (Faculdade Anchieta) e Educação na Saúde para Preceptores no SUS (Hospital Sírio-Libanês), além de diversos cursos em Constelação Familiar na água, Consciência Sistêmica, Psicossomática, entre outros.

Integrante do GT Científico do CECS, Erica Lopes Ferreira fez a análise do artigo ‘A eficácia da terapia de Constelação Familiar/Sistêmica ajustada à pandemia na melhora dos sintomas psicopatológicos: um ensaio clínico randomizado’. Ela destaca a importância de expandir o diálogo entre ciência e constelações sistêmicas, especialmente no contexto das pesquisas que buscam validar e adaptar essas práticas para diferentes ambientes e configurações

A diretora Científica do CECS, Roseny Flávia Martins, destaca a importância da atuação colaborativa do GT Científico da instituição: “Ao longo dos últimos seis meses, a equipe, formada por profissionais de diversas áreas, se reúne regularmente com o propósito de contribuir para o avanço científico nesse campo”

Centro de Excelência em Constelações Sistêmicas (CecsBrasil) – Assessoria de Comunicação – Contato para informações e entrevistas: (62) 9-8271-3500 (WhatsApp)

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