Com presença especial do psicólogo espanhol, Centro de Excelência realiza encontro on-line com o tema “Ética e postura terapêutica na Constelação Familiar”. Referência internacional, ele enfatiza importância da presença respeitosa diante do cliente. Mediadora do evento, presidente da instituição, médica Dagmar Ramos faz chamado à participação coletiva da comunidade em defesa da abordagem. Transmissão conta com tradução consecutiva da terapeuta Nati Kopacheski, do projeto Sim à Vida

O Centro de Excelência em Constelações Sistêmicas (CECS) recebeu, no dia 09 de agosto de 2025, o psicólogo e escritor espanhol Joan Garriga Bacardí durante a live especial com o tema “Ética e postura terapêutica na Constelação Familiar”.

Referência internacional na abordagem fenomenológica sistêmica, Garriga apresentou reflexões críticas sobre a atuação do terapeuta, enfatizou a importância da humildade, da escuta e da presença respeitosa diante do cliente.

“A relação é o mais desafiador. O cliente não vem pronto. Ele chega como pode, e nosso trabalho começa ali”, afirmou.

Garriga criticou posturas autoritárias, defendeu o “não saber” como chave da fenomenologia e destacou: “O essencial é que a Constelação aproxime o cliente de sua própria voz”

Durante o evento, ele questionou condutas excessivamente interventivas, defendeu a prudência diante de casos graves — como doenças terminais — e alertou contra a imposição de narrativas por parte do constelador: “Não devemos operar como oráculos. A Constelação precisa servir ao cliente, não à vaidade do terapeuta.”

A discussão percorreu temas como o papel da espiritualidade no campo sistêmico, formação ética, limites da intuição clínica, risco das chamadas “fantasias terapêuticas” e uso equivocado de interpretações fixas.

A presidente do Centro de Excelência em Constelações Sistêmicas, Dagmar Ramos, médica e psicoterapeuta, especialista em psiquiatria, homeopatia, medicina preventiva e social, foi a mediadora do evento. Ela recomendou a leitura do livro de Garriga: ‘Constelar a vida: Do amor cego ao amor lúcido’.

Ela compartilhou experiências clínicas marcantes e reforçou a necessidade de estabelecer padrões responsáveis para a prática no Brasil. “A Constelação não é uma resposta mágica. É uma escuta do campo e da alma”, pontuou.

Dagmar Ramos fez um chamado à participação da comunidade consteladora em defesa da abordagem e reforçou convite à associação ao CECS. Fundada em 24 de fevereiro de 2024, a entidade atua na articulação institucional, no diálogo com autoridades e desenvolve ações voltadas para o avanço científico das Constelações Familiares Sistêmicas.

A transmissão contou com tradução consecutiva da terapeuta Nati Kopacheski, do projeto Sim à Vida. Ela fez convite para dois eventos com Joan Garriga no Brasil: de 07 a 09 de novembro, em Porto Alegre, e de 13 a 16 de novembro, em retiro de quatro dias em Vinhedo (SP).

Perfil

Psicólogo espanhol licenciado pela Universidade Central de Barcelona, Joan Garriga Bacardí especializou-se em terapia Gestalt, programação neurolinguística (PNL), abordagem ericksoniana e métodos cênicos e corporais.

Em 1986, fundou e passou a dirigir o Instituto Gestalt de Barcelona. Aprofundou a formação com Claudio Naranjo, tornou-se discípulo e colaborador nos programas SAT e de psicoterapia integrativa.

Em 1999, foi o responsável por introduzir na Espanha o trabalho de Bert Hellinger. Desde então, consolidou-se como um dos principais expoentes das Constelações Familiares no cenário internacional.

Autor de diversos livros, incluindo Constelar a Vida – Do Amor Cego ao Amor Lúcido, Garriga é reconhecido pela firmeza e delicadeza na condução de casos complexos. É também professor e palestrante em formações e eventos na Espanha e em vários países ao redor do mundo.

Abertura com emoção e reconhecimento

A presidente do Centro de Excelência em Constelações Sistêmicas (CECS), Dagmar Ramos, iniciou o encontro com um discurso de acolhimento e gratidão. Destacou a presença de Joan Garriga Bacardí como um presente para a comunidade brasileira de consteladores. Reconheceu a contribuição voluntária do convidado e a colaboração da terapeuta Nati Kopacheski, responsável pela tradução consecutiva.

Dagmar relembrou o momento em que conheceu Garriga, em 2006, no Encontro Internacional de Constelações e Pedagogia Sistêmica, em Sevilha, e descreveu o impacto profundo que uma de suas conduções causou em sua trajetória profissional.

Ela ressaltou que a escolha do tema “Ética e postura terapêutica na Constelação Familiar” nasceu da relevância que a conduta do terapeuta possui na criação de um campo propício para a prática.

Afirmou que Garriga sintetiza, em sua obra, aspectos cruciais para o exercício responsável dessa abordagem, ao unir profundidade técnica e sensibilidade humana. A live buscou extrair de sua experiência as percepções sobre os cuidados, os acertos e os equívocos mais comuns na atuação de consteladores.

A primazia da pessoa sobre a Constelação

Autor do livro ‘Constelar a vida: Do amor cego ao amor lúcido’, Joan Garriga Bacardí afirma que o centro do trabalho não é a Constelação, mas a pessoa que a vivencia.

Prefere apresentar-se como alguém que acompanha pessoas por meio das Constelações Familiares, articulando o que aprendeu em mais de duas décadas de atuação.

“A pessoa tem palavra, corpo, emoção, congruências e incongruências, feridas e potencialidades. O essencial é a presença do terapeuta para estar com ela tal como é”, diz.

Para ele, a tarefa inicial consiste em estabelecer confiança; a partir desse vínculo, o cliente pode dialogar com a Constelação e alcançar núcleos traumáticos que dificultam o fluxo da vida.

Humildade como antídoto contra a arrogância

Outro pilar de sua abordagem é a humildade, entendida como a consciência de que a realidade é maior que o terapeuta.

Trabalhar em aliança com a realidade, mesmo quando dolorosa, é, segundo ele, fundamental. Em casos de doença, por exemplo, o terapeuta deve “inclinar-se” diante dela, explorar seu sentido e função.

A humildade, afirma, protege contra a arrogância e ajuda o terapeuta a manter-se próximo da verdade do cliente, em vez de impor interpretações ou soluções.

Uma prática respeitosa e verdadeira

Garriga diz que sua forma de trabalhar e ensinar reflete não apenas o que considera eficaz, mas também como gostaria de ser tratado caso estivesse no papel de cliente: com respeito, verdade, transparência, presença, delicadeza e compaixão diante das feridas mais profundas.

Ele reconhece que há profissionais que atuam de maneira diferente — inclusive de forma mais autoritária — e que também obtêm bons resultados. “Eu ensino o que funciona para mim e como imagino que um terapeuta de Constelação deveria se portar comigo”, resume.

A importância de caminhar um passo atrás

Garriga defende que o terapeuta “ande um passo atrás” do cliente, com respeito ao que se mostra possível em cada momento.

Ele condena posturas autoritárias que colocam o profissional “um passo à frente” do paciente.

Tal condução, observa, pode infantilizar o cliente e transformar autoridade clínica em controle. “O mais belo da relação terapêutica é o encontro verdadeiro entre dois seres humanos verdadeiros”, afirma.

A autoridade do terapeuta e o “não saber”

A autoridade, diz, não reside em indicar o rumo do outro, mas em manter consciência do que acontece consigo e colocar isso a serviço da relação.

Valoriza a posição do “não saber” por considerá‑la mais fiel ao método fenomenológico. Relata que nunca supõe de antemão “a trama” do cliente e que, quando intuições surgem, evita impô‑las. Prefere o diálogo contínuo — “isso faz sentido para você?” — e entende a Constelação como narrativa com a qual o cliente pode conversar para transformar vínculos.

Uma prática respeitosa e verdadeira

O psicólogo reconhece que há profissionais que atuam de modo diferente — inclusive com traço autoritário — e obtêm resultados. Ele, porém, ensina o que experimenta como eficaz e o que desejaria receber: respeito, verdade, transparência, presença, delicadeza e compaixão diante das feridas profundas.

Segundo resume, o trabalho em Constelações Familiares ganha densidade quando o terapeuta sustenta a pessoa, preserva limites e permite que o sentido emerja do encontro.

‘Fantasias terapêuticas’ nas Constelações Familiares

A presidente do CECS, Dagmar Ramos, mediadora da live, chamou a atenção para o que considera um desvio crescente na prática de alguns profissionais: as chamadas “fantasias terapêuticas”.

O termo, usado por Joan Garriga em seu livro ‘Constelar a Vida’, descreve situações em que o constelador induz o cliente a verbalizar frases ou aceitar interpretações que não se apoiam em qualquer verificação objetiva.

Segundo Dagmar, trata-se de enunciados que se repetem em diversos atendimentos, como se fossem verdades reveladas ou intuições infalíveis do terapeuta, mas que, na prática, partem de projeções pessoais.

“São falas que escuto com frequência no Brasil, e que, a meu ver, representam um viés preocupante. Há casos de consteladores dizendo a um cliente, por exemplo: ‘Este pai não é seu pai’ ou ‘você teve um irmão gêmeo que não evoluiu’. Sem qualquer comprovação, essas afirmações podem provocar grande transtorno na vida da pessoa”, afirmou.

A médica e psicoterapeuta considera o fenômeno uma distorção ética séria e pediu a Garriga que aprofundasse o tema, a fim de avaliar os riscos e limites dessa postura no contexto das Constelações Familiares.

Joan Garriga critica uso de ‘oráculos’ e defende que Constelações aproximem o cliente de sua própria voz

O psicólogo espanhol Joan Garriga Bacardí afirmou que ainda se irrita ao ouvir relatos de pessoas que saem de uma Constelação Familiar com supostas “revelações” desconectadas de sua experiência direta.

“Às vezes me dizem que descobriram ter um irmão gêmeo, ou que na linhagem materna ocorreram abusos sexuais. E eu pergunto: como essa Constelação ajudou você? Como isso está a seu serviço?”, disse.

Para Garriga, há profissionais que tratam a Constelação como um oráculo e assumem para si o papel de sacerdotes dessa revelação, algo que considera equivocado.

Ele comparou com a tradição grega, em que oráculos como o de Delfos eram consultados em busca de respostas, mas ressaltou que o processo terapêutico não deve se limitar a esse tipo de discurso.

“O essencial é que a Constelação sirva para aproximar o cliente de sua própria voz, não da voz do terapeuta”, destacou.

Ele citou sua formação em Gestalt e lembrou que o criador da abordagem, Fritz Perls, adotava um estilo agressivo e confrontativo, tendência que se disseminou entre terapeutas gestálticos.

Já Bert Hellinger, fundador das Constelações Familiares, possuía uma autoridade natural e profundo respeito ao fenômeno ao evitar interpretações categóricas. “Ele registrava hipóteses, mas não as impunha. Dizia ‘parecem abortos’, e não ‘são abortos’”, exemplificou.

Garriga defendeu que o terapeuta mantenha atenção constante às próprias hipóteses para não as projetar sobre o cliente. Como exemplo, mencionou a diferença entre consteladores treinados na teoria do “gêmeo evanescente”, que tendem a identificar muitos casos desse tipo, e outros que, sem essa premissa, praticamente não os encontram.

“O mais importante é como o cliente olha para a Constelação e reconstrói suas vivências sobre seus vínculos”, pontuou.

Dagmar Ramos relatou um episódio que vivenciou ao lado de Bert Hellinger, fundador das Constelações Familiares, durante um seminário realizado em Goiânia.

O caso envolvia um paciente psiquiátrico com transtorno obsessivo-compulsivo grave, cuja primeira Constelação havia revelado a imagem de várias pessoas caídas no chão, aparentemente mortas. Pela dinâmica do trabalho e pelas falas dos representantes, Dagmar interpretou a cena como um possível registro de mortos em batalha, ligados à história familiar do cliente.

Meses depois, a terapeuta levou o caso para supervisão com Hellinger, em um encontro marcado por forte impacto emocional.

O ator Ramon Recino, amigo próximo de Dagmar e falecido pouco tempo depois, foi o escolhido para representar o paciente. A cena que se formou repetiu a anterior: muitos corpos estendidos no chão. Ao observar, Hellinger comentou: “Parecem abortos”.

Dagmar contou que, ao ouvir a colocação, manifestou sua hipótese inicial de que poderiam ser mortos de uma batalha. Hellinger respondeu: “É possível, penso que você tem razão”. Para ela, o momento representou não apenas a validação de seu olhar, mas também uma lição de humildade e serenidade do mestre.

“Quando vejo consteladores que afirmam categoricamente determinadas interpretações, sem espaço para a dúvida, percebo que corremos o risco de induzir erros e causar problemas. A pessoa pode tomar aquilo como uma verdade absoluta, e isso, a meu ver, é um dos grandes equívocos na condução de uma Constelação”, afirmou.

Tradição terapêutica e enquadramento clínico

Joan Garriga Bacardí destacou que o modo como um constelador conduz o trabalho está diretamente ligado à tradição terapêutica com a qual se formou. Segundo ele, existem enquadramentos clínicos que determinam lugares específicos para o terapeuta e para o paciente, e Bert Hellinger adotava um modelo baseado no “encontro real e verdadeiro entre duas pessoas”.

Nesse formato, explicou, Hellinger podia levantar hipóteses — como dizer “parecem abortos” ou “parecem mortos de batalha” — e, em seguida, devolver ao cliente a reflexão, ao perguntar como aquela cena chegava a ele e que informações adicionais poderiam trazer.

“Muitas vezes, afirmo para o cliente que não sabemos exatamente como os fatos aconteceram. O que vemos é que, na Constelação, há pessoas caindo ao chão, seguidas por outras. Então pergunto: como você se sente diante disso? Isso tem sentido para você?”, exemplificou.

Intuições não são verdades absolutas

Garriga defendeu que, embora as intuições sejam frequentes no trabalho com Constelações Familiares, não devem ser tratadas como verdades absolutas. Ele relatou o caso de uma cliente que, ao sentar-se para iniciar a Constelação, lhe despertou um pensamento persistente: “Esta mulher tem um santo que a protege”. Ao compartilhar isso, deixou claro que era apenas uma percepção pessoal.

A mulher confirmou e revelou o nome do santo, contando depois um episódio traumático de infância: a mãe, diagnosticada com esquizofrenia, ouvia vozes e chegou a perguntar a elas, na presença da filha de cinco anos, se deveria matá-la.

“Que maravilha é a estrutura da vida, que permitiu a essa mulher criar a figura de um santo protetor”, observou.

Formação e responsabilidade do facilitador

O psicólogo enfatizou que o papel do terapeuta é acompanhar o cliente para que ele dialogue com a Constelação, e não impor interpretações.

“No universo das Constelações, falta aos facilitadores mais trabalho pessoal e formação além das próprias Constelações. Sem isso, não se compreende bem o enquadramento terapêutico, o lugar do terapeuta e o lugar do cliente”, afirmou.

Olhar de desconfiança em outros países

Ele acrescentou que, em países como a Espanha, ainda há olhares de desconfiança sobre a abordagem, especialmente entre outros profissionais da área da saúde, que veem as Constelações Familiares como um recurso fora dos parâmetros clínicos.

“É uma pena, porque poderiam ser aplicadas dentro de um enquadramento terapêutico claro. E isso não depende de a pessoa ser ou não psicóloga”, ressaltou.

Espiritualidade integrada à prática terapêutica

Dagmar Ramos destacou a relevância do modo como Joan Garriga Bacardí aborda a espiritualidade em sua obra. Para ela, o tema aparece de forma “interessante e profunda”, integrando-se de maneira prática à condução terapêutica.

Dagmar questionou como a experiência de mais de duas décadas com as Constelações Familiares influenciou as crenças filosóficas e a visão espiritual de Garriga.

“Quando você fala em uma espiritualidade para a vida real e coloca Bert Hellinger dentro dessa perspectiva mais concreta, isso me chama atenção”, afirmou.

A médica e psicoterapeuta relatou que sua própria trajetória — marcada por raízes familiares na tradição espírita brasileira — foi transformada pela prática das Constelações. Segundo ela, a abordagem favoreceu uma visão mais ampla e integrativa da espiritualidade, “menos como algo externo e mais como algo que acontece dentro de mim”.

Dagmar ressaltou que, em sua experiência como facilitadora, busca trazer à prática terapêutica essa dimensão espiritual que não se confunde com religião, mas se aproxima do “sentido verdadeiro da religiosidade, do religare”.

Para ela, o trabalho de Garriga oferece uma contribuição singular ao interpretar e transmitir o pensamento de Bert Hellinger:

“Você teve um contato profundo com Bert Hellinger que não vi nem no livro autobiográfico dele. É uma compreensão ímpar não apenas sobre o ser humano que ele foi, mas sobre a filosofia que nos deixou e a forma como ela pode ser aplicada”, afirmou Dagmar.

Um tributo a Bert Hellinger e à dimensão espiritual das Constelações

Joan Garriga Bacardí afirmou que seu livro ‘Constelar a Vida’ é também uma homenagem a Bert Hellinger, a quem dedicou a obra. “Ele tinha um ouvido para o espírito”, disse, ao destacar os anos de meditação, interiorização e mística que marcaram a trajetória do criador das Constelações Familiares.

Segundo Garriga, Hellinger percorreu “um caminho completo do ego ao ser” ao encontrar um lugar interno capaz de aceitar a vida tal como é.

Ao citar a monja budista Pema Chödrön, ele lembrou que o ego pode ser definido como “tudo aquilo que se opõe ao que é” e considerou que Hellinger alcançou níveis profundos de transcendência, o que confere às Constelações uma dimensão que vai além da técnica psicológica.

O autor observa que o trabalho constante com traumas, perdas e situações devastadoras coloca o terapeuta diante de algo que o “eu pessoal” não consegue manejar sozinho.

“Com sorte, rendemo-nos e nos abrimos para algo que está por trás do eu, que é a essência, e cuja única qualidade é ser amorosa e estar em sintonia com tudo tal como é”, destacou.

Ele relatou que, aos 30 anos, ouviu de um mestre da Gestalt que terapeutas com muitos anos de experiência tendem a se tornar alcoólatras ou espirituais.

Para Garriga, lidar com pessoas marcadas pela tragédia e acompanhá-las até o ponto de rendição pode revelar “uma outra dimensão da doçura da existência” — algo que, segundo ele, também foi moldado pelo próprio sofrimento que viveu.

Ao recordar seu encontro com Hellinger, acompanhado do amigo Ramon Recino, Garriga disse ter perguntado se sua abordagem era espiritual.

“Ele se irritou e respondeu: espiritual é uma mãe que cria oito filhos.” Para o psicólogo, a resposta reflete a essência da espiritualidade na visão de Hellinger: quando a palavra é usada em excesso, perde seu sentido.

Com o tempo, no entanto, Hellinger passou a falar sobre um dos conceitos que se tornariam centrais em seu legado — os “movimentos do espírito” —, ao explicar que “o espírito pensa tudo tal como é” e que render-se a ele é curador, enquanto resistir ao que é conduz ao adoecimento.

“Isso não é algo que se decide de manhã para a noite, mas um processo interior que, por vezes, leva muito tempo”, apontou Garriga.

Pode-se constelar pelo parceiro amoroso?

A mediadora Dagmar Ramos leu uma questão enviada no chat: a dúvida era se uma pessoa poderia participar de uma Constelação Familiar em nome do parceiro amoroso. Ela explicou que o questionamento surgiu porque a participante havia ouvido uma opinião de Bert Hellinger sobre o tema e queria conhecer também a perspectiva de Joan Garriga Bacardí.

A mediadora acrescentou que a pergunta poderia se estender para um âmbito mais amplo, explorando se é possível constelar não apenas pelo companheiro, mas também em nome de outra pessoa com quem se mantém um vínculo afetivo direto.

Constelar pelo parceiro amoroso pode ser impertinente, avalia Joan Garriga

Ao responder à questão, Joan Garriga Bacardí disse não se recordar de Bert Hellinger realizar Constelações Familiares em nome de parceiro amoroso. “A maioria das vezes, quando alguém vem com esse pedido, é um enredo que não corresponde trabalhar e pode ser uma impertinência”, afirmou.

O psicólogo espanhol contou que só abriu uma exceção em situação extrema: quando uma ex-companheira, hospitalizada com uma doença grave e sem condições de participar, pediu que ele realizasse uma Constelação em seu nome. “Depois, transmiti a ela tudo que havia surgido”, disse.

Segundo Garriga, é comum receber casos de clientes que querem trabalhar questões de casal e, nessas situações, ele pode incluir o parceiro ou parceira na dinâmica. No entanto, evita avançar para incluir pais ou familiares da outra pessoa. “Me sinto mal se faço isso. É entrar em um território onde quem poderia trabalhar não está presente”, afirmou.

Ele comparou com propostas que já recebeu para realizar Constelações políticas, como entre israelenses e palestinos. “Eu não faço, a menos que sejam políticos com responsabilidades ou pessoas diretamente envolvidas no conflito. Caso contrário, podemos até ver e aprender algumas coisas, mas não vai servir para muito.”

Joan Garriga defende prudência ao lidar com Constelações em casos de doenças terminais

Ao responder à pergunta de um médico sobre a postura do constelador diante de pacientes em estado terminal, o psicólogo espanhol Joan Garriga Bacardí foi categórico: o ponto de partida deve ser “respeito, verdade, realidade e reconhecimento”.

Ele destacou que o trabalho depende do momento em que a pessoa se encontra e do que deseja. “Precisamos ser realistas. Não está demonstrado que uma Constelação faça curas milagrosas. Pode haver melhorias em alguns casos, mas nunca vi um processo terminal ser revertido por meio dessa abordagem”, afirmou.

Segundo Garriga, em situações assim, o diálogo franco com o paciente é essencial, inclusive para compreender como ele se relaciona com a possibilidade de morrer e o quanto consegue aceitá-la. “Talvez a Constelação possa ajudar a ordenar coisas que estão no coração, mas eu seria prudente ao oferecer uma Constelação com promessa de cura”, ponderou.

O psicólogo contou já ter trabalhado com pessoas em estágio avançado de doença, mas admitiu que hoje evitaria certos casos. “Às vezes, o problema não é o paciente, mas um familiar que não aceita a morte dele. Nessas circunstâncias, o foco pode se deslocar para a pessoa errada”, afirmou.

Garriga também relatou que médicos espanhóis o procuraram para discutir o papel das Constelações no cuidado de fim de vida. “Eles diziam que as pessoas morrem mal porque não estão em paz com seus familiares, e viam nas constelações uma possibilidade de promover essa reconciliação. Mas talvez um bom acompanhamento, conversas francas e a presença dos filhos tenham mais impacto que a Constelação em si”, ponderou.

Caso narrado por Dagmar Ramos mostra impacto emocional em paciente terminal

A mediadora Dagmar Ramos compartilhou uma experiência que descreveu como uma das mais marcantes de sua carreira, e que está registrada em seu livro ‘Constelações Familiares na Medicina’.

O episódio ocorreu durante uma Constelação conduzida pelo médico alemão Gunther Weber, com uma paciente diagnosticada com câncer terminal e uma extensa tumoração no rosto. “Ela não aceitava a morte, não queria fazer testamento, estava revoltada e sentia muitas dores. Mas aceitou participar da Constelação”, contou.

Weber escolheu representantes para a paciente, a vida, a morte e o destino — papel atribuído a Dagmar. “Foi uma vivência transpessoal e meditativa muito profunda. Recolhi algo no chão, levei ao coração e depois ao rosto, sentindo uma paz absoluta”, relatou.

Ao final, Dagmar abraçou a paciente, que ainda escondia o rosto com um véu. Quinze dias depois, soube que a mulher havia se reconciliado com familiares, resolvido pendências e feito o testamento e a passagem em paz. “Foi um resultado belíssimo para uma paciente terminal. Mostrou que, mesmo sem curar, a Constelação pode trazer serenidade e fechamento”, afirmou.

Garriga encerra participação ao destacar a importância da benevolência no trabalho terapêutico

Em suas palavras finais, o psicólogo espanhol Joan Garriga Bacardí afirmou ter apreciado o encontro e a oportunidade de refletir a partir das questões apresentadas. Ele destacou, em especial, a relevância do tema da morte e de como ele desperta reflexões profundas sobre o papel do terapeuta.

“Há uma última coisa que considero importante quando acompanhamos pessoas: a benevolência. Ela é o sentimento claro de que desejamos tudo de bom para o outro”, afirmou.

Garriga agradeceu o diálogo e disse ter sido “muito bonito” compartilhar ideias e experiências no encontro.

Joan Garriga participa de eventos no Brasil em novembro

A terapeuta Nati Kopacheski, do projeto Sim à Vida, anunciou a vinda do psicólogo espanhol Joan Garriga Bacardí para dois eventos no Brasil. De 07 a 09 de novembro, ele estará em Porto Alegre, em encontro organizado pela consteladora Eliane Macedo Lima.

Na sequência, de 13 a 16 de novembro, Garriga participa de um retiro de quatro dias em Vinhedo (SP), com programação voltada para “saúde do corpo, dos vínculos e saúde da alma”. O evento oferecerá também opção de participação on-line.

Segundo Nati, as inscrições e informações podem ser obtidas pelos sites oficiais das organizadoras. “Vai ser uma alegria receber vocês nos dois encontros”, afirmou.

Dagmar Ramos encerra encontro com convite para associação ao CECS

A presidente do Centro de Excelência em Constelações Sistêmicas (CECS), médica e psicoterapeuta Dagmar Ramos, encerrou o encontro com agradecimento fraterno ao psicólogo espanhol Joan Garriga Bacardí pela participação e reforçou a importância de apoio institucional à entidade.

Dagmar destacou que o CECS atua ativamente na defesa das Constelações diante de críticas e tentativas de restrição. “Na sexta-feira (08/08) passamos a tarde a acompanhar uma reunião do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, que discutia a possibilidade de considerar as Constelações uma prática que fere os direitos humanos de mulheres e crianças. Conseguimos mobilizar forças e reverter, em grande parte, esse processo. Foi uma vitória, mas ainda há grandes desafios”, afirmou.

Segundo a presidente, o CECS, fundado há um ano e meio, conta com estrutura profissional — que inclui assessoria jurídica, imprensa e marketing — e atua de forma voluntária. “Precisamos de mais associados, não apenas para contribuir financeiramente, mas para integrar os grupos de trabalho, como o de ética, o de estruturação de programa mínimo de formação e o de pesquisa científica”, disse.

O CECS, lembrou Dagmar, participa de instâncias como o comitê de apoio às questões científicas do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (Cabsin), que abrange áreas como homeopatia, acupuntura, medicina tradicional chinesa e Constelações. “Temos um site e trabalhamos muito para fortalecer o campo. Queremos muito que vocês estejam conosco nessa jornada”, concluiu.

Participantes da live “Ética e postura terapêutica na Constelação Familiar”, promovida pelo CECS no dia 09 de agosto de 2025, com presença especial do psicólogo espanhol Joan Garriga Bacardí

Psicólogo espanhol licenciado pela Universidade Central de Barcelona, Joan Garriga Bacardí especializou-se em terapia Gestalt, programação neurolinguística (PNL), abordagem ericksoniana e métodos cênicos e corporais: ele questiona modelos autoritários e defende uma escuta fenomenológica nas Constelações Familiares

A presidente do CECS, Dagmar Ramos, médica e psicoterapeuta, especialista em psiquiatria, homeopatia, medicina preventiva e social: ela fez um chamado à participação da comunidade consteladora em defesa da abordagem e reforçou convite à associação à entidade

A transmissão contou com tradução consecutiva da terapeuta Nati Kopacheski, do projeto Sim à Vida, que fez convite para dois eventos com Joan Garriga no Brasil: de 07 a 09 de novembro, em Porto Alegre, e de 13 a 16 de novembro, em retiro de quatro dias em Vinhedo (SP)

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